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Estamos começando nosso segundo semestre do curso de Ciências Biológicas - Ead - UFSC. Seja bem vindo ao nosso blog de Organização Escolar.

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Alunas de Ciências Biológicas - Ead - UFSC - Araranguá

quarta-feira, 10 de março de 2010

Síntese Individual - Cíntia Karina Elizandro.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – CED
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS ESPECIALIZADOS EM EDUCAÇÃO – EED
Profª: Drª Terezinha Maria Cardoso e Roseli Zen Cerny
Turma: Ciências Biológicas – Pólo Araranguá
Acadêmica: Cíntia Karina Elizandro

A cultura escolar pode ser considerada um conjunto de elementos, entre eles, as concepções teóricas e políticas, que fazem com que as escolas, em geral, se assemelhem. Tais elementos, normalmente são naturalizados, transmitidos e reproduzidos continuamente, muitas vezes dificultando com que mudanças ocorram nas instituições de ensino.
Por outro lado, a cultura da escola é a identidade da mesma, com suas peculiaridades forjadas pela inter-relação da universalidade da cultura escolar, pelos valores que a sociedade vincula à escola e pelos valores manifestados pelos diversos atores que nela se reúnem e participam, porém, não se desvincula de um contexto sociocultural maior, que envolve a dimensão da instituição escolar, do cotidiano, do contexto e da arquitetura.
Perspectivas diversas sobre as finalidades da escolarização foram sendo construídas ao longo dos tempos, existindo várias teorias que muitas vezes se conflitam e interferem de forma limitante na organização escolar e elaboração do seu projeto político e pedagógico.
A teoria de Durkheim está na base da visão funcionalista da escola. Sob esta ótica a escola tem a função de integrar os indivíduos à sociedade, funcionando como um corpo dividido em diferentes órgãos para o cumprimento correto das suas atribuições, regidas por direitos e deveres, para atingir o seu objetivo fundamental.
Em outra ponta Weber afirma que burocracia é sinônimo de organização, embasando a visão estruturalista ou burocrática da escola. Esta perspectiva vem complementar a visão funcionalista, atribuindo conceitos específicos sobre organização, com um conjunto de regras atribuindo papéis bem definidos para os diferentes atores e suas funções no corpo da escola, caracterizando também sua estrutura hierárquica de autoridade.
Já a visão reprodutivista, faz crítica às teorias conservadoras (funcionalista e estruturalista), e tem como base a teoria marxista, onde a escola tem um papel fundamental à reprodução da ideologia burguesa. Essa perspectiva tem duas vertentes, uma que se refere à reprodução social e outra à reprodução cultural. A primeira vê a escola como um ambiente que desenvolve a divisão de classes através de suas práticas. E a segunda percebe a escola como instrumento que através da violência simbólica exercida pela ação pedagógica reproduz e mantém a ordem social. Essa violência simbólica se refere à imposição da cultura dominante.
As chamadas pedagogias crítica e da resistência, participam da crítica que se desenvolveu, principalmente em relação às teorias de reprodução social, argumentando, que assim como no próprio modelo de produção capitalista existem resistências, a escola que se encontra inserida neste contexto social e econômico, também traz em seu interior esse movimento de resistência espelhando a sociedade.
Fazendo um contraponto às concepções funcionalista, estruturalista e reprodutivista, a perspectiva da escola como espaço sociocultural, percebe nesta, uma autonomia capaz de trabalhar com as influências exteriores de forma a promover ou neutralizar suas determinações. Atribui também à escola a característica de produtora da cultura por meio das diversas expressões dos atores que a compõem, sendo que as mudanças que vierem a surgir só serão possíveis em sintonia com a atuação desses sujeitos dentro da forma de agir e ser, construída por eles neste ambiente.
Analisando a história da educação, é possível perceber que o desenvolvimento e estruturação da organização escolar foram se adaptando as necessidades e imperativos ditados em diferentes épocas, onde a escola cumpria finalidades específicas. A escola contemporânea tem herança de todas essas influências e vem se construindo há séculos.
No Brasil, a universalização escolar realizou inúmeras tentativas de criar suas bases, desde 1827, porém foi apenas no início do séc. XX que houve iniciativas mais concretas, principalmente porque surgiu a necessidade por parte do Estado brasileiro para cumprir suas metas de expansão industrial, sendo a escola vista como importante instrumento.
Fazendo um paralelo entre minha experiência pessoal e os estudos sobre a cultura escolar e a cultura da escola, primeiramente, foi possível perceber que as diversas significações sociais creditadas à escola, desde suas teorias mais conservadoras até as concepções mais atuais e abrangentes, encontram-se mescladas e perceptíveis no ambiente escolar. Estas significações não se apresentam como forma única no local, mas é como se a escola apresentasse diferentes faces. É uma instituição, que mesmo tendo sua estrutura moldada pelas classes dominantes, servindo a manutenção do poder através de diversos mecanismos, que resultam no que se pode chamar de cultura escolar, tem no seu âmago uma identidade que se forma por uma força de resistência baseada nos ideais humanos, nos sonhos de pais, educadores e estudantes. Forjada nesta trama de conflitos e intenções, emerge o que se pode chamar de cultura da escola, reflexo do resultado de forças exteriores (históricas e atuais) filtradas à luz de determinada comunidade escolar com seus atores, seus valores e poderes pessoais, construindo um espaço sociocultural único.
Entre os diversos mecanismos de controle da verdadeira potencialidade do ambiente escolar, encontra-se a questão da arquitetura influenciando este contexto como uma forma de domínio embutido de inúmeras significações. Pode-se dizer que a arquitetura é a dimensão que melhor representa a “violência simbólica”, uma vez que, impõe ao indivíduo um ambiente do qual ele não tem como se desvencilhar. Principalmente, quando se fala em educação em termos de “obrigatoriedade”. Por mais que um aluno se sinta oprimido num ambiente que o afasta de sua natureza, liberdade, criatividade e sensibilidade, ele tem a obrigação de permanecer ali, caracterizando assim, o tamanho dessa violência e o grau de adestramento a que é submetido.
Quanto ao direito à educação, este sim é inquestionável, porém, quanto à obrigatoriedade, pode ser considerada uma questão controversa que ofende a liberdade pessoal, talvez a única maneira justa de obrigar alguém a algo, seja transformar o que seria obrigação num desejo irrefreável. Ou seja, a escola deveria ser um local tão ideal que ninguém ousaria perder a oportunidade de vivenciá-la. Não tenho filhos, porém se tivesse, não desejaria colocá-los na escola da forma como ela é, gostaria que eles aprendessem por outros métodos, através dos quais suas criatividades não fossem tolhidas, suas personalidades fossem respeitadas, que eles estivessem em um ambiente acolhedor, onde se sentissem protegidos e dignos. Porém, se eu tivesse filhos, não teria oportunidade de escolha, opção de oferecer a eles alternativas e caminhos diferentes, por quê? Isso é um risco a ordem social? Creio que sim...
Nas seis escolas que frequentei durante o ensino básico posso recordar de alguns traços do que a meu ver compõem a cultura escolar: hierarquia de poder com uma estrutura que permite muitos abusos, relacionamento doentio entre grupos de estudantes (com muitas discriminações e perseguições pelos mais diversos motivos) encarado com naturalidade ou indiferença pelos educadores, arquitetura opressora e falta de ambiente físico adequado para aulas mais estimulantes, conjunto de normas criadas sem a participação dos estudantes, sendo os mesmos, tratados como massa (rebanho), horários de aula incompatíveis com as necessidades dos estudantes e professores, e todas as mazelas que se seguem a estas condições. A maioria das coisas boas a que nos apegamos para sobreviver a esse massacre estava um pouco contaminada de alguma forma: o recreio era legal, todos juntos no pátio da escola descontraindo um pouco, mas neste momento mal orientado, os grupos discriminadores lançavam seu fel, brigas até com luta física aconteciam, ameaças veladas, ostentação com o lanche (que alguns podiam comprar), discriminação pelo lanche (aos que tomavam a sopa escolar), e aí vai. Momentos de companheirismo, para os times em educação física, e o isolamento daqueles que não tinham aptidão ou gosto por determinado esporte.
No que se refere à cultura da escola, alguns pontos específicos puderam ser destacados. Uma escola teve relevante valor na minha memória por estimular as atividades culturais e artísticas, promovendo constantes eventos que reuniam toda a comunidade escolar, inclusive com a presença dos pais, familiares e sociedade local, nos permitindo assim, momentos de interação ativa e construtiva em nosso meio social. Além disso, a direção dessa escola idealizava propostas pedagógicas inovadoras, porém, esbarravam na falta de qualificação específica dos professores que estavam despreparados para implementar essas propostas, esta escola era da rede particular de ensino. Já na rede pública, uma se destacou por ter laboratórios de ciências, de línguas, e auditório para palestras, além de uma biblioteca com razoável qualidade. Essas condições estruturais, apesar de mal exploradas pelos professores, eram sempre uma motivação para os estudantes que ansiavam pelo momento em que seriam levados a estes interessantes ambientes, nos sentíamos mais valorizados por essas condições não oferecidas em outras escolas, e isso nos tornava de alguma forma diferente, se refletindo na cultura de nossa escola. Numa outra escola tínhamos no currículo aulas de técnicas domésticas e técnicas comerciais, que também nos levavam em espaços diferenciados e isso era bastante empolgante, nos colocava em situações diferentes, explorando conteúdos que nos despertavam bastante interesse por fazerem parte de nosso cotidiano. Além disso, os estudantes tinham oportunidade de uma interação mais íntima com seus colegas e educadores nessas aulas, e isso criava uma atmosfera agradável que também se refletia na cultura dessa escola. Existiam outros pequenos detalhes e iniciativas que se diluíam na pressão da cultura escolar. Mas, a atuação dos professores era o ponto que fazia a real diferença, são os professores inesquecíveis: ou por sua dedicação e amor ao que faziam, ou pela tortura e danos que causaram. Infelizmente esses educadores eram todos tratados de igual maneira dentro da cultura escolar, como a dizer através de uma linguagem simbólica que não tinha importância a forma como lecionavam, não seriam valorizados nem punidos, a lei da indiferença prevalecia como um anestésico amortecendo as iniciativas de aperfeiçoamento profissional e de atuação para a construção de uma escola mais verdadeira e estimulante.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
GONÇALVES, Rita de C. A arquitetura escolar como materialidade do direito desigual à Educação. Ponto de Vista. n1. v.1. jul./dez. 1999.

CURI, Carlos R. J. Direito à Educação: Direito à Igualdade, Direito à Diferença. In: Cadernos de Pesquisa. n. 116. Jul. 2002.

CARDOSO. Terezinha M. Organização escolar. ? ed. Florianópolis: Biologia/EaD/UFSC. 2010.

Um comentário:

Unknown disse...

Excelente trabalho! Parabéns!
um abraço

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